Por Ana Thomaz
Desescolarização é o termo que tenho usado para expressar o desejo de tirar a escola de dentro de mim, a escolarização, que eu defino como massificação, colonização e que cria desejos artificiais em seus alunos.
Seria mais preciso falar sobre mudança de paradigma de uma cultura e de um sistema.
Hoje, nossa cultura vigente é a patriarcal, e nosso sistema é o capitalista.
Ambos são processos anti-vida, desqualificadoras da potência de vida, pois nos coloca a serviço de um sistema e uma cultura patológica, por isso é anti-vida, pois a vida é biológica.
O ser humano é um ser biológico e cultural, e como todo ser vivo é autopoietico, o que significa, capaz de criar-se a si mesmo continuamente.
É um ser cultural porque a autopoiese se da ao mesmo tempo na autonomia do ser em relação ao ambiente, criando assim uma cultura.
É um paradoxo onde nos criamos a nós mesmos de modo autônomo porem em relação ao ambiente que vivemos, isso quer dizer que, eu me crio de um modo se viver em um lugar, e vou me criar de outro modo se viver em outro local, é um processo de relação constante e interdependência, mas nunca de submissão e de desqualificação.
No nosso modo de vida sob a cultura patriarcal e o sistema capitalista, a autopoiese é totalmente desinvestida e não desejada, e ao invés de confiarmos e potencializarmos nossas potências, somos induzidos a pensar, sentir e agir da maneira que siga alimentando nosso sistema e nossa cultura vigentes, criando um ciclo vicioso.
Quando voltamos a investir em nosso processo autopoietico, nos abrimos para o mundo porem sabemos que somos responsáveis pela realidade em que vivemos, e não vitima de um sistema ou de uma cultura.
A desescolarização, que poderia ser chamada de desmassificação ou de descolonização, é o convite para voltarmos a viver um processo biológico e cultural de confiança na natureza e na existência, de desinvestimento em tudo que nos afasta ou que adoece a vida, e um investimento na potencialização da potência.
Estou chamando potência a força do desejo de vida, algo em nós deseja viver, e isso se da de modo singular, o meu desejo de vida se potencializa com algumas experiências e se despotencializa com outras, e isso é singular. Não existe a universalidade, o absoluto, onde toda e qualquer singularidade reage do mesmo modo diante das coisas.
Por isso nosso sistema vigente precisa massificar, para poder universalizar, criando uma sensação de falta de desejo próprio, que logo será falsamente preenchido por um desejo artificialmente criado em nós, que será a vontade de consumo, do consumo material, do consumo espiritual, etc.
Sendo autopoieticos, somos produtores e não consumidores, produzimos a nós mesmos e não consumimos para dar sentido a vida.
Na autopoiese somos produtor e produto ao mesmo tempo sem a necessidade de consumir para preencher o falso vazio que se da pelo desinvestimento da vida.
A pratica da desescolarização é uma possibilidade para hoje, para agora; não precisa mudar fora primeiro, não precisa que o sistema ou que a cultura mude primeiro, pois precisamos nos dar conta que somos nós, que tanto criticamos o sistema vigente, que sustentamos esse sistema, com nosso modo de pensar, sentir e agir a vida.
Queremos saúde mas investimos no seguro de saúde que nada mais é do que o desejo de ser atendido ao ficar doente, e assim, cada vez mais, somos negligentes com a saúde. Pois ninguém pode nos dar saúde, a saúde é uma conquista nossa, por nosso modo de vida. Assim como ninguém pode nos dar liberdade, ser livre é responsabilidade e conquista de cada um.
Na minha experiência, investir na vida potente, com toda sua imprevisibilidade e perfeição, nos coloca imediatamente em contato com a vida saudável e livre que deixa de ser utopia e se apresenta como realidade cotidiana.
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